Arrumando o computador, (re)encontrei um trabalho realizado pelo Pedro Cleto, a propósito do livro PUNK REDUX. Aqui vos deixo tudo:
1.
Demasiado (?)
elogiada por alguns, a autobiografia - também aos quadradinhos – tem que
cumprir (pelo) menos um de dois pressupostos para ser interessante:
2.
O autor fez/viveu
coisas interessantes ou…
3.
O autor conta o que
viveu de forma interessante.
4.
(Há ainda – caso
ideal! - a conjugação dos dois aspectos, quando o autor conta de forma
interessante, algo interessante que fez/viveu).
5.
Em O Menino Triste –
Punk Redux, João Mascarenhas recorda a sua primeira vista a Londres, no Verão
de 1976, estava o movimento punk a dar os primeiros passos, o que faz dela uma
BD que pode ser catalogada na categoria do autobiográfico…
6.
… mesmo que ao tom
recordatório evidente, Mascarenhas acrescente igualmente momentos ficcionais e
uma forte componente documental…
7.
… sendo que este
último ponto transforma este álbum num caso único entre nós.
8.
A sua base, é
evidente, são as memórias de Mascarenhas, aquilo que ele viveu durante um Verão
em Londres…
9.
… mas o seu propósito
vai mais além, pois pretende evocar as bases e princípios do movimento punk.
10. De forma empenhada e
militante, é evidente – e não me parece que haja qualquer mal nisso – pois João
Mascarenhas viveu de forma intensa, embora curta, aquele momento único, mas
também com bastante lucidez, traçando uma imagem bastante nítida do que levou tantos
jovens de então a desafiar – pela forma de vestir, sim, mas principalmente por
palavras, atitudes e ideias – o conformismo, o cinzentismo, a falta de saídas,
então existentes
11. (E que em muitas
questões não estão longe – ou estarão longe apenas pela dimensão mais global
dos problemas – das que afectam os jovens europeus de hoje).
12. A par disso,
Mascarenhas, estabelece um paralelo com a situação – antagónica ou similar…? –
que se vivia então em Portugal, na sequência da revolução de Abril.
13. Se tudo isto já era
suficiente para justificar a leitura desta nova vivência de O Menino Triste,
Mascarenhas acrescenta-lhe mais um aspecto: a qualidade da sua narração.
14. Em que, sem o
desvirtuar, adequa o seu grafismo – geralmente limpo e claro, aqui mais duro,
sujo e pesado – a linguagem utilizada (bem próxima do vernáculo que o punk
utilizou) e a própria concepção das pranchas, com vinhetas de contornos
recortados, por vezes atravessadas por alfinetes ou fora da esquadria que
tradicionalmente os quadradinhos seguem.
15. Para além disso,
distribui pelo relato referências, homenagens e piscares de olho, não só ao
punk e aos seus símbolos exteriores mais visíveis, mas também a Portugal, a
músicos portugueses e à própria banda desenhada, que justificam uma segunda
leitura, mais atenta a eles do que à narrativa em si.
16. Posto isto, se este
texto fica por aqui, após a leitura (ou antes dela?) de Punk Redux, aconselho
vivamente a (re)leitura da entrevista com João
Mascarenhas
aqui publicada, como complemento útil – e interessante –
deste - interessante - pedaço de vida que ele conta - de forma interessante.
Banda
sonora aconselhada
Para acompanhar a leitura de O Menino Triste – Punk Redux
(que pode ser encomendado
aqui), João Mascarenhas,
“sem ser exaustivo e sem qualquer ordem de preferência ou temporal”, tendo em
conta as suas “preferências pessoais” e porque dão “uma visão daqueles tempos
iniciais”, aconselha como banda sonora os seguintes temas:
- Anarchy in the U.K. – Sex Pistols
- God Save the Queen – Sex Pistols
- Should I stay or should I go – Clash
- Bored Teenagers – The Adverts
- How much longer – Alternative TV
- Pay to Cum – Bad Brains
- Boredom – Buzzcocks
- Forces of Victory – Linton Kwesi Johnson
- Hong Kong Garden – Siouxsie and the Banshees
- Denis – Blondie
- New rose – The Damned
- Do anything you wanna do – Eddy and the Hot Rods
- If the kids are united – Sham 69
- Blitzkrieg
Bop – The Ramones
- Don’t worry about the government – Talking Heads
1.