06/02/13

Leonardo da Vinci era (também) um Menino Triste

(Recuperando um antigo post)
Tudo começou quando Freud adivinhou no ambíguo sorriso das mulheres pintadas por Leonardo da Vinci a ternura sublimada mas inquieta por uma mãe longínqua.

Da leitura do livro de Sigmund Freud “Uma recordação de infância de Leonardo da Vinci” (Relógio D’Água Editores, Setembro 2007) ressalta o quanto a ausência da mãe do grande artista Renascentista o influenciou e limitou em alguns dos aspectos da sua vida enquanto homem e enquanto artista, tornando-o num “menino triste”.
De facto, como escrevi num dos primeiros posts deste Blog, uma criança pode tornar-se numa “criança triste” se não crescer nos braços da sua mãe, ou se não vir os seus sonhos tornarem-se realidade.
Com efeito, Leonardo da Vinci, que se sabe ser filho ilegítimo de Ser Piero da Vinci, notário, e de Caterina que era provavelmente camponesa, à qual foi arrancado quando tinha a idade entre três e cinco anos, para ir viver com o pai e com a terna e jovem madrasta Donna Albiera, a mulher de seu pai.

Leonardo terá guardado saudade imensa da sua mãe, que terá reencontrado quando tinha 41 anos, em 1493, quando esta o foi visitar a Milão. Reencontro infeliz, já que Caterina adoeceu e veio a falecer; as notas tomadas por Leonardo quanto às despesas com o seu funeral assim o confirmam.

Freud, através da observação dos sorrisos das figuras femininas pintadas em A Virgem com o Menino e Stª Ana (c. 1508-1513) consegue ver neles o mesmo sorriso que Leonardo pintou no quadro Mona Lisa del Giocondo. Segundo o autor, o sorriso de Mona Lisa terá despertado em Leonardo, já adulto, a recordação da mãe dos seus primeiros anos de infância.
[...]Quando Leonardo, chegado ao apogeu da sua vida, voltou a encontrar o sorriso de bem-aventurado êxtase que outrora animara a boca da sua mãe quando ela o acariciava, encontrava-se desde há muito sob o domínio de uma inibição que lhe proibia voltar a desejar tais carícias dos lábios de uma mulher. Mas tornou-se pintor e por isso esforçava-se por reproduzir com o pincel este sorriso em todos os seus quadros, e não só naqueles que ele próprio executou mas também nos que fez executar pelos seus discípulos, sob a sua orientação, tais como a Leda, o S. João Baptista e o Baco.[...]

Aliás, o sorriso de Mona Lisa serviu também de mote a uma história d’O Menino Triste, chamada exactamente “O Sorriso” que pode ser vista alguns posts atrás, neste Blog.